Nome completo,
data e local de nascimento.
AF:André
Fusko, natural de São Paulo. 25/09/1972
Médico
e ator. Quem veio primeiro?
AF:Na
faculdade de medicina comecei a fazer teatro e descobri que eu
era ator e não sabia. Tive que vencer meu preconceito e depois o
da minha família. Este tempo de aceitação e transição serviu
também pra eu acabar a faculdade. No mesmo ano em que me formei
médico prestei vestibular pra Escola de Arte Dramática da ECA
USP e comecei minha formação profissional no teatro.
O que o
André/Ator contribuiu com o trabalho do
André/Médico, e vice-versa?
AF:Nossa!
Tanta coisa!!! O curso de medicina é muito técnico e traz uma
relação com o raciocínio lógico e prático que me faz uma pessoa
mais eficiente. Sinto falta do lado humano na nossa formação e
no dia-a-dia do exercício da medicina. Já o Teatro tem uma
relação mais próxima com a emoção, com a filosofia e com o lado
humano. Uma se soma a outra, mas o Teatro tem uma cara mais
próxima do que eu julgo que seja melhor pra humanidade. Até o
fenômeno da catarse, onde a pessoa alivia os sentimentos
reprimidos pela moral e pela vida em sociedade,vivenciando esses
sentimentos na arte, até este fenômeno é uma cura pra muitos
males de hoje. Digo isso como médico e sem nada de metafísico. É
cientificamente comprovado. O homem hoje está muito distante do
que ele é, do animal que ele é, e distante também da compreensão
deste animal e com isso do autoconhecimento. Isto adoece
pessoalmente e coletivamente.
Como foi a
experiência de ser o idealizador do espetáculo O Anjo do
Pavilhão, desde o início, a idéia, até a conquista, a estréia.
AF:Está
sendo um aprendizado maravilhoso. Sofro às vezes com a minha
inexperiência. Nada acontece como eu esperava e isso às vezes é
bom e às vezes não. Tudo começou há 4 anos quando procurei o Drauzio e ele me ofereceu o conto BÁRBARA. Depois tive a idéia
de fazer a brincadeira de ver o que muda quando uma mesma
inspiração passa por dramaturgos diferentes. Depois busquei
patrocínio, aprovei o projeto na lei Rouanet, etc, etc e etc.
Mas quem quer patrocinar uma história de um travesti do
Carandiru? Foi meu encontro com o Ivam Cabral do Satyros e a
empolgação dele que viabilizaram o projeto. Outras pessoas me
ajudaram muito: os dramaturgos Sergio Roveri e Aimar LAbaki, o
diretor Emilio Di Biasi, entre outros. Quando começamos os
ensaios tudo aconteceu:ator quebrou braço, ator foi fazer
novela, ator desistiu por não suportar o clima pesado do tema e
muitas outras coisas inesperadas.Teve até o capítulo de arrumar
três privadas pro cenário (privadas que no fim nem foram
usadas). A estréia, as críticas boas, o público que comparece às
22h30 no começo da semana, os olhos do Drauzio brilhando na
estréia, são tantas recompensas que acho que ainda não assimilei
tudo.
Quatro
atores e uma atriz no elenco de O Anjo do Pavilhão 5.
Existe uma contribuição do orbe feminino para a montagem que é
ambientada no cárcere?
AF:Com
certeza! A peça toda é um pouco feminina. Até o estuprador é
delicado! Na verdade fizemos tudo muito juntos e todos
participaram de cada segundo da peça. Nem imagino como seria sem
a Maria Gândara nos ensaios!
O que
pensa ao abrir o jornal e ver um pedaço mínimo reservado ao
roteiro dos espetáculos teatrais?
AF:Falha
na educação! Por exemplo, a Ditadura tirou a filosofia do
currículo escolar e não sei porque ainda não voltou. A formação
precária afasta as pessoas da cultura, da busca do conhecimento
e assim também do teatro. O jornal não coloca teatro nas suas
páginas porque o público busca coisas mais superficiais. Quem
estuda, lê, se questiona e teve acesso ao teatro acaba
PRECISANDO de cultura.
O
artista é vaidoso por natureza? Como é ego do ator?
AF:Aí o
bicho pega. Todo ator é vaidoso. O que fazer com a vaidade é a
questão. É triste ver um ator sacrificando a compreensão de uma
história por que coloca sua imagem, seu ego a frente do
espetáculo. O dia-a-dia dos atores revela cenas de dar risada! A
vaidade desmesurada gera inveja, crises e pode acabar com um
espetáculo. Na figura de produtor foi muito difícil administrar
os egos de um bando de artista querendo seu espaço. Uns dando
exemplo positivo e outros carentes ou agressivos e egoístas.
Talvez a palavra que traga a solução e o equilíbrio seja
GENEROSIDADE. Sacrificar seu ego pelo espetáculo é o mais digno
que um ator pode fazer, e a recompensa acaba sendo muito maior.
Aprendi isso e a vida sempre me reafirma essa teoria.
Teatro.
Cinema. TV. Do seu ponto de vista, quais são as diferentes
nuances de linguagem para atuar nestes três meios de
comunicação?
AF:AH,
isso da um livro!!! Mas o básico talvez seja:Teatro-
visceralidade ao vivo. Cinema- mais recursos e numa sala escura.
O seu olhar é guiado por um telão que nos invade.TV- numa sala
iluminada, exige menos atenção e compromisso.
Um vício: Surfe)
Um livro: Judas, O Obscuro de
Tomas Hardy e os livros de sonhos do Jung)
Um segredo:
Se
eu contar deixa de ser segredo, né?)
Um remédio: Dipirona)
Um anti-herói: Mario
Bortolotto)
Um seriado de TV antigo:
O Homem de 6 Milhões de Dólares )
Sobre a próxima
montagem baseada em Bárbara, como é interpretar a "mesma
história", sob o ponto de vista de dois autores (Aimar Labaki e
Sérgio Roveri)?
AF:Muito
bom. Duas linguagens diferentes, dois personagens
diferentes, dois elencos diferentes, duas direções diferentes...
estou descobrindo ainda.
O que acha
da internet, o ser humano se tornou muito dependente dela nos
últimos 10 anos?
AF:Hoje é
fundamental. A velocidade da informação faz parte da evolução
que inclui a Globalização. Pena que na essência o Homem continua
a de um chimpanzé!
Para
finalizar a entrevista, entre na "Panela de Pressão" (jogo de
escrita automática) e monte uma frase com as seguintes palavras: esbórnia, cabreiro,
sandália.
AF: Quem
fica cabreiro com a esbórnia alheia é porque não pode ser o
bicho que gostaria de ser. Desce do salto do racionalismo
estúpido, da sandália da ignorância,das havaianas, as legítimas
do isolacionismo, e mete o pé na Terra e na festa da
transgressão descalça.
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