Revelações
Ele
ajudou a revelar à televisão brasileira talentos como Fábio
Assumpção, Maria Luisa Mendonça, Patrícia França, Leonardo
Vieira, Letícia Sabatella, Marco Ricca, Caco Ciocler.
Antes das revelações, um nascimento
Mas Costabile Emilio Di Biasi, nascido em vinte e nove de
maio de mil novecentos e trinta e nove, na capital de São
Paulo, tem sua própria história para revelar - não é de hoje
que ele é ator e diretor.
Fracassos e alegrias em boa companhia
Lilian
Lemmertz, Yara Amaral, Glauce Rocha, Berta Zemel, Normal
Bengell, Célia Helena. Raul Cortez, Sérgio Mamberti, Antonio
Abujamra, dividiram o palco, fracassos e alegrias, em anos
dourados junto a Di Biasi.
Minha paixão pelo teatro é meu dinheiro
Sua
geração se alimentou de e para o teatro - um
pouco diferente da atual que entende o teatro como uma ponte
provisória e temporária para chegar à televisão e que
considera mais importante ter estabilidade financeira e ser
celebridade do que o "fazer" em si.
Entre as artes do engano e da mentira...
Décadas
antes de a música do extinto grupo do Kid Vinil fazer
sucesso com “Sou boy”, Emilio Di Biasi começava, aos 17
anos, a trabalhar num banco como tal. Nesse ínterim, entre
“as artes do engano e da mentira” mostrou-se mais inclinado
às artes dramáticas do que o curso que fazia na Faculdade de
Direito do Largo de São Francisco.
Digite O de Ousados
Foi
contínuo no Citibank e lá conheceu a atriz Yara Amaral
(1936/1988). Apaixonados por teatro, montaram um grupo de
teatro amador. Eram ousados, tinham um repertório variado,
de Teneesse Williams a Frederick Knott, deste último,
encenaram “Disque M para Matar” - peça teatral que Alfred
Hitchcock transformou em filme, com Grace Kelly, em 1954.
Férias e idéias que fervilham
Seguiu
por um tempo sua carreira de bancário. Recebeu uma promoção
no Citibank e tempos depois foi trabalhar no Banco do Brasil
até que decidiu passar uma temporada na Europa.
Quando voltou ao Brasil, a cabeça fervilhava de idéias.
Conheceu Antonio Abujamra, que fazia parte do Teatro
Oficina, e que o dirigiu pela primeira vez em “José, do
Parto à Sepultura” de Augusto Boal, em 1961.
E os mistérios do sexo
Em 1963,
três atores e um autor fundam o Grupo Decisão. Berta Zemmel,
Wolney de Assis, Emilio Di Biasi e Lauro César Muniz. Sérgio
Mamberti entraria logo depois. O grupo montou “Sorocaba,
Senhor” uma adaptação de Fuenteovejuna de Lope de
Vega. Antonio Ghigonetto assinou a direção do espetáculo.
Entre outros, Emilio atuou em “O
Patinho Torto” de Coelho Neto (1864/1934), uma atrevida
comédia de situações na qual protagonizava um homossexual -
o texto de Neto abordava o sexo de maneira avançada até para
os dias de hoje.
Madrinha no Rio
A atriz
Glauce Rocha (1933/1971) foi uma das grandes incentivadoras
para que o Decisão se mudasse para o Rio de Janeiro - depois
do primeiro e estrondoso sucesso de “O Inoportuno” do autor
Harold Pinter, em São Paulo. No Rio, encenaram “Electra”, de
Sófocles, “O Olho Azul da Falecida”,
de Joe Orton,“Os Inconfidentes”,
de Flávio Rangel.
Panfletos, protestos, manifestos: não em camisetas
No
Golpe de 64, Di Biasi, junto a
outros atores escreviam os próprios manifestos e os
encenavam em praças públicas, em Porto Alegre. Suspeitando
de que estava por vir uma grande revolução, afinal 1 milhão
de pessoas foi às ruas, amedrontado de o comunismo subir ao
palanque, ele achou por bem fazer uma viagem. Percebeu que
era à hora de "reciclar" sua carreira.
Início de um flerte
Flertando
com a idéia de dirigir, permaneceu de 1965 a 1966 na Europa.
Na Itália, fez o Teatro Piccolo de Milão com consagrado
diretor Giorgio Strehler. Colocou no seu currículo Londres
com o Estágio Royal Court. Depois a Berliner
Emsemble, em Berlim - na época, estudava na Berlim
Ocidental, mas dormia na Berlim Oriental.
Estréia inevitável
Em solo
brasileiro fez sua estréia como diretor em “Cordélia Brasil”
de Antonio Bivar em 1968. No elenco, a consagrada, até então
não muito conhecida, Norma Benguell e Paulo Bianco.
Bagagem dos anos 80
Entrou
nos anos 80 com uma bagagem de mais de vinte espetáculos
dirigidos – entre eles “A Vida do Messias” de Timochenco
Wehbi, com Berta Zemel. “A Massagem” de Mauro Rasi, com Nuno
Leal Maia e Stênio Garcia. “Hoje é Dia de Rock” de José
Vicente, com Raul Cortez e Célia Helena. “Caixa de Sombras”
de Michel Christofer, com Lilian Lemmertz (Prêmio Governador
do Estado de Melhor Diretor).
O prêmio
chama-se paixão
Em 1999,
se apaixona pelo sentido poético do texto e da relação
humana dos personagens de “Um Passeio no Bosque” de Lee
Blessing. Tratava-se da amizade estabelecida entre dois
diplomatas, um americano e um russo que, durante a Guerra
Fria, encontram se num país neutro, para discutir sobre um
programa nuclear. Não em vão a paixão de Di Biasi: ele
ganhou o Prêmio Shell de melhor ator.
Trocando figurinhas
Na virada
do século assume a direção de espetáculos de uma “nova” e
talentosa geração de atores como o divertido e irreverente “PPP@wllmshpr.com.br”
com Os Parlapatões Patifes e Paspalhões (Prêmio APETESP de
Melhor Diretor). “Dois Perdidos Numa Noite Suja” de Plínio
Marcos, com Marco Ricca e Petrônio Gontijo. “Budro” de Bosco
Brasil, com Jairo Mattos e João Vitte e, recentemente, “O
Anjo do Pavilhão Cinco”, de Aimar Labaki, com André Fusko,
Ivam Cabral e Maria Gândara.
A televisão é agradável e é pra todo mundo
Em TV, na Rede Globo Emílio dirigiu “Os Maias” de Maria Adelaide Amaral, “Renascer” de
Benedito Rui Barbosa, “Rei do Gado” de Benedito Rui Barbosa
e "Esperança" de Benedito Rui Barbosa.
Devoção, substantivo necessário
Com
50 bons anos dedicados ao teatro, felizardos são aqueles que
estão na terra, atores estreantes, ou não, de TV ou teatro,
que passarem pelas mãos de Emilio Di Biasi. Se souberem
desfrutar, podem se considerar salvos da fugacidade.
Emilio na casa de Emilio
É
vaidoso, mas em escala pequena.
Tem como vício, depois do teatro, o cigarro. Acredita que a
imprensa é tendenciosa.
Reconhece que a internet é útil, transformadora de uma nova
geração, mas ainda se sente desconfortável com ela. Prefere
os livros. Clássicos como “Os Frutos da Terra” e “A Montanha
Mágica” de Thomas Mann não empoeiram em sua biblioteca.
Vida longa ao teatro
Podemos
dizer que Emilio Di Biasi é uma daquelas pessoas que se não
existisse, hoje o teatro seria apenas uma arte decadente com
um pé na cova. Não graças a ele, essa arte se transformará
numa minissérie para a TV “Vida e Morte do Teatro”. Au
contraire. ◘
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