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RODANDO EM AMSTERDà    

Ruas, pontes, calçadas, todas negras de bicicletas, milhões delas em movimento contínuo nas ciclovias, imperando e disputando, cautelosas e imponentes, seu lugar no trânsito.

                                  

Por: Viviane Fuentes                                                                                                                           Fotos: Mathieu Gillot

 

Pluralidade. Mulheres loiras, homens morenos e vice-versa. Jovens, adultos, crianças, cachorros, não importa a raça nem a idade, todos estampam o cotidiano em cima, dentro e ao lado de uma bicicleta. Pedalar é tão natural como respirar. A trabalho, a passeio ou para um flerte, seja no centro da cidade ou mais distante, a inseparável magrela. É 1x1, cada habitante tem a sua.

Na capital dos Países Baixos, a bicicleta não é um esporte, é claramente um estilo de vida e, diga-se de passagem, um dos mais charmosos. Sensato que, numa cidade plana, o veículo de locomoção seja uma magrela. E literalmente elas são esguias, é maioral. Uma das marcas populares de lá se chama Gazela. Custam centavos (europeus, é claro!). Nada de equipamentos high-tech. Apenas o traçado e a personalidade do dono. Enfeitadas ou não, novas ou estropiadas, trafegam num trânsito bem planejado. Placas sinalizam onde não se pode estacioná-las. Se transgredir a essa regra, pessoas autorizadas recolhem sua bike ou, simplesmente, o vento forte e corriqueiro a derruba. Por essas e outras é que são simples, sem suspensão, freios a discos e toda essa parafernália. Os neerlandeses são descendentes das “bicicletas brancas” - movimento da década de 60, onde a magrela não era de ninguém, bastava pegar, usar e depois deixar em estações especiais – talvez seja por isso que não ostentam e nem sustentam a cobiça. 

Ciclovias caminham paralelas às ruas e às ruas caminham paralelas às calçadas. Esse trio, - calçada, ciclovia e rua - que está no mesmo nível, dialoga em perfeita harmonia. Mas atenção turista transeunte! A ciclovia é antes de tudo uma via de locomoção, ao olhar deslumbrado à charmosa arquitetura da cidade e suas janelas indiscretas, se liga para não cruzá-la! Mantenha-se atento, permitindo o fluxo dos ciclistas locais. Caso contrário ouvirá um palavrão numa língua que talvez não entenda, ou uma buzina estridente ecoará em seus pulmões! Se alugar uma bike para passear atente-se aos princípios do trânsito amsterdamês e ao fluxo dele. Nunca subestime o trilho do bonde articulado, transporte muito comum lá, ele está por toda urbe e tem exatamente a largura do pneu de uma Gazela. Uma vacilada e não tem técnica ou reza brava que não te faça cair – aliás, esse bonde articulado freia, gentil e suave, quando se está para atravessar a rua... Impressionante! Estamos falando de uma capital rica, de economia estável, e suas vias, literalmente, não têm subidas ou descidas. Apenas sedutoras pontes que se arqueiam, sutilmente, sobre os canais.

A hora do rush se parece bastante às das grandes metrópoles, mas sem poluição. Carros são raros carros em Amsterdã. Sob o céu cinza, seus habitantes vestem-se com tecidos coloridos e cítricos, se destacam, alegram e sinalizam na multidão. A beleza e saúde dos holandeses são invejáveis. Não existem obesos, muito provavelmente por causa do hábito diário. Enquanto pedalam, mães carregam bebês no colo; pais transportam vários filhos, de uma vez só, em bancos ou cestas, na frente ou atrás das bicicletas; adolescentes delgados, echarpes soltas ao vento, pedalam em velocidade; senhores, montados em suas gazelas, seguram a guia de seus cachorros e atravessam cruzamentos em segurança; antes do entardecer, casais estacionam a magrela, fazem uma parada em simpáticos largos para um flerte ou apenas para um papo; uma jovem pedala de salto alto ao mesmo tempo em que fala ao celular ao mesmo tempo em que abana a mão para um amigo ao mesmo em que faz uma curva para comprar um maço de tulipas e enfeitar a casa! Assim é a elegante vida em Amsterdã.