Situada ao Sul da França, a Oeste da Itália, ao Norte da
Ilha de Sardenha, a ilha mediterrânea, com mais de 8 mil
km/2, é a mais bela montanha no mar. Ao longo dos
séculos, ela mantém acesa a utopia pelo controle de
território. Seus famosos souvenires, canivetes feitos
de madeiras nobres, vêm com a seguinte inscrição:
Vendetta. Vingança faz parte da cultura corsa.
Com 260 mil habitantes e em pleno século XXI
vemos
nas placas de sinalização nas estradas furos de balas
perdidas. Não é incomum casas ou estabelecimentos comercias
serem incinerados de repente. O povo corso tem muita
influência sobre o rumo de sua história, ainda hoje, em
época de eleição, políticos vão até as casas dos eleitores,
a procura da conquista e da simpatia de votos. Sempre a
frente de seu tempo, em 1755, a Córsega era vanguarda da
preocupação democrática e foi considerada a primeira Nação
Moderna da Europa - ainda faz jus ao título, atualmente,
luta pela preservação de suas praias recônditas, para que o
cimento não as assole e elas permaneçam rudes.
Herança ancestral, para proteger-se de invasões, os
corsos sempre preferiram às montanhas ao mar. Apesar de
produzirem excelentes ostras, sua economia é calcada na
agricultura e pastoril. Criam animais soltos, porcos,
ovelhas e, comumente,
robustos
cachorros berger guiam cabras e bodes por estradas
planas e trilhas íngremes. Casas feitas de granito fazem
parte da paisagem bucólica, algumas servem de abrigos aos
pastores, para a sesta, em dias ensolarados.
Caminhar pelas montanhas da Córsega é uma aventura
inesquecível, todavia atenção, o nível fácil das caminhadas,
indicado nos guias, não é tão fácil para quem é sedentário,
mas não é impossível. As trilhas estão sinalizadas com
pedras, pintadas de diferentes cores, identificando o nível
de dificuldade de cada trajeto. Com vontade e disposição dá
para desbravar montanhas rochosas e gigantescas. Para quem
tem vertigem, é bom analisar e escolher bem o trecho que irá
seguir, as subidas são longas e inclinadas, existem momentos
que, literalmente, se escala a montanha. O pico mais alto é
o Monte Cinto, com 2.706 metros. Atingir 1.500 metros
significa,
muito provável, deparar-se com hipnóticos lagos glaciais
onde pássaros negros imperam sobrevoando entre eles. Se vir
um lago como esse, curta o momento atemporal, pois a descida
não será um alívio porque “a essas alturas” a fadiga é um
fato não uma conjetura. Comece a caminhada logo quando o sol
se levantar, termine antes do entardecer e prepare-se para
repor as energias, passeando por vilarejos como o de Corte,
Bonifácio, pelas Callanches, Ajaccio (capital da ilha), e
deliciar-se num de seus charmosos restaurantes.
A comida corsa é rica, encorpada e variada, existem
infinitos tipos de queijo, inclusive de cabra, cada um
melhor e mais forte que o outro, numa tartine, o
antepasto já pode começar! Nos menus dos restaurantes não
faltam, como opção, carnes de caça (javali com chocolate!)
que devem ser acompanhadas com excelentes vinhos tintos
regionais, que não são exportados – para um bom apreciador,
a visita e a “aquisição” pelas adegas corsas, principalmente
em Corte, se faz indispensável - e, para fechar, como
dessert, o clássico crème brulée é impecável.
A
Córsega é assim: de um lado, reservadas montanhas de dorso
escarpado e, por outro, a
assanhada
costa litorânea,
envolvida pelo mar mediterrâneo,
que não é nada tímido, se mostra
toda e,
cristalina que é, vê-se por cima da água os peixes, as
pedras, o fundo do mar e, no horizonte, barcos a velejar.
Montanha ou ilha? As duas! Não é em vão que, entre batalhas
sangrentas desde antes Napoleão ter nascido, em Ajaccio, e
até mesmo antes de Cristo ter nascido, os corsos lutam por
sua independência, eles sabem da pequena e mais bela
pátria que têm.◘
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