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CÓRSEGA - terra de quem?                                           

Por: Viviane Fuentes Fotos: Mathieu e Bernard Gillot

 

Descoberta e fundada por gregos, já pertenceu à Itália, já pertenceu à França, depois fora devolvida pelos franceses aos genoveses, passou um curto período aos cuidados da Inglaterra , voltou a ser e é, atualmente, da França - verdade seja dita, a Córsega pertence à Córsega!

 

Situada ao Sul da França, a Oeste da Itália, ao Norte da Ilha de Sardenha, a ilha mediterrânea, com mais de 8 mil km/2, é a mais bela montanha no mar. Ao longo dos séculos, ela mantém acesa a utopia pelo controle de território. Seus famosos souvenires, canivetes feitos de madeiras nobres, vêm com a seguinte inscrição: Vendetta. Vingança faz parte da cultura corsa.

         Com 260 mil habitantes e em pleno século XXI vemos nas placas de sinalização nas estradas furos de balas perdidas. Não é incomum casas ou estabelecimentos comercias serem incinerados de repente. O povo corso tem muita influência sobre o rumo de sua história, ainda hoje, em época de eleição, políticos vão até as casas dos eleitores, a procura da conquista e da simpatia de votos. Sempre a frente de seu tempo, em 1755, a Córsega era vanguarda da preocupação democrática e foi considerada a primeira Nação Moderna da Europa - ainda faz jus ao título, atualmente, luta pela preservação de suas praias recônditas, para que o cimento não as assole e elas permaneçam rudes.

         Herança ancestral, para proteger-se de invasões, os corsos sempre preferiram às montanhas ao mar. Apesar de produzirem excelentes ostras, sua economia é calcada na agricultura e pastoril. Criam animais soltos, porcos, ovelhas e, comumente, robustos cachorros berger guiam cabras e bodes por estradas planas e trilhas íngremes. Casas feitas de granito fazem parte da paisagem bucólica, algumas servem de abrigos aos pastores, para a sesta, em dias ensolarados.

         Caminhar pelas montanhas da Córsega é uma aventura inesquecível, todavia atenção, o nível fácil das caminhadas, indicado nos guias, não é tão fácil para quem é sedentário, mas não é impossível. As trilhas estão sinalizadas com pedras, pintadas de diferentes cores, identificando o nível de dificuldade de cada trajeto. Com vontade e disposição dá para desbravar montanhas rochosas e gigantescas. Para quem tem vertigem, é bom analisar e escolher bem o trecho que irá seguir, as subidas são longas e inclinadas, existem momentos que, literalmente, se escala a montanha. O pico mais alto é o Monte Cinto, com 2.706 metros. Atingir 1.500 metros significa, muito provável, deparar-se com hipnóticos lagos glaciais onde pássaros negros imperam sobrevoando entre eles. Se vir um lago como esse, curta o momento atemporal, pois a descida não será um alívio porque “a essas alturas” a fadiga é um fato não uma conjetura. Comece a caminhada logo quando o sol se levantar, termine antes do entardecer e prepare-se para repor as energias, passeando por vilarejos como o de Corte, Bonifácio, pelas Callanches, Ajaccio (capital da ilha), e deliciar-se num de seus charmosos restaurantes.

         A comida corsa é rica, encorpada e variada, existem infinitos tipos de queijo, inclusive de cabra, cada um melhor e mais forte que o outro, numa tartine, o antepasto já pode começar! Nos menus dos restaurantes não faltam, como opção, carnes de caça (javali com chocolate!) que devem ser acompanhadas com excelentes vinhos tintos regionais, que não são exportados – para um bom apreciador, a visita e a “aquisição” pelas adegas corsas, principalmente em Corte, se faz indispensável - e, para fechar, como dessert, o clássico crème brulée é impecável.

A Córsega é assim: de um lado, reservadas montanhas de dorso escarpado e, por outro, a assanhada costa litorânea, envolvida pelo mar mediterrâneo, que não é nada tímido, se mostra toda e, cristalina que é, vê-se por cima da água os peixes, as pedras, o fundo do mar e, no horizonte, barcos a velejar. Montanha ou ilha? As duas! Não é em vão que, entre batalhas sangrentas desde antes Napoleão ter nascido, em Ajaccio, e até mesmo antes de Cristo ter nascido, os corsos lutam por sua independência, eles sabem da pequena e mais bela pátria que têm.