São
criaturas marginais, sardônicas, com um feroz desejo de
viver expressa em cores fortes, olhares e gestos. A cada
quadro, abre-se uma janela, em que observamos e somos
observados.
Nessa
fase inicial da sua carreira – que teve um célebre tríptico,
A Pedra do Reino, feito em parceria com Flávio Tavares, hoje
exposto no Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba –
Lucena foi mesclando figuras humanas e paisagens.
No início
dos anos de 1990 foi estudar e pintar em Berlim. A Europa
Central bem poderia ser o habitat dos personagens que
povoavam a sua pintura. Mas, nessa sua nova fase, surgem
figuras humanas míticas, inseridas em paisagens que têm vida
própria, e que são indissociáveis destas criaturas.
Em 2003,
prestes a completar 40 anos, Sérgio muda-se de armas e
bagagens para São Paulo, quando muitos de sua geração
acomodavam-se em uma estrutura de mercado provincianamente
tentadora.
Em sua
nova cidade, pinta figuras humanas cheias de sugestões,
retratos vigorosos. Ao mesmo tempo, surgem animais e homens
imersos em um universo escuro, não identificável.
Bichos,
pessoas: falta um mundo em que eles possam habitar.
Vagarosamente, surge um mundo primordial, envolto em uma
neblina luminosa. São paisagens feitas de luz, onde se
insinua terra, água, mas, sobretudo indagações.
A força
desse novo universo é tamanha que não permite dividir o
espaço com outros seres. Com essas paisagens diáfanas, somos
apresentados a um novo mundo. Ou melhor, ao universo do
artista, que está a nos convidar a compartilhar do seu
significado e da sua existência.
Sérgio
sinaliza que criar um novo universo não é negar a nossa
própria realidade. Ao contrário, quanto mais nos damos conta
que ele pinta um “novo” mundo, este não se apresenta com uma
negação do nosso mundo.
Estamos
diante de uma proposta ousada: pensar sobre a nossa
existência a partir do mistério da criação e da vida.
Que mundo
é esse que Sérgio nos apresenta a cada árvore, ilha, céu,
firmamento? Será o mundo daquelas criaturas – bicho e gente
– que ele próprio forjara?
Seria
natural vê-las inseridas nesses quadros feitos de luz e a
exigir reflexão?
Cabe a
nós essas respostas. ◘ |