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08/11/2006

 

Pantanal do Norte  - nada de ficar apenas sentado em frente à TV ou lendo a revista sobre esse lado do Brasil, tem que praticá-lo também!                  

Por: Viviane Fuentes Fotos: Mathieu e Bernard Gillot e Viviane Fuentes

                                                                                           

O Pantanal é uma daquelas regiões do Brasil que deveria preencher mais os nossos olhos do que a boca e o encéfalo. Ser vivido e não somente estudado ou lido. O estar lá permite ver  e sentir o que livros e revistas não nos revelam.

 

Sentados à frente da TV, assistindo trechos de uma novela recente ou de um programa na National Geographic, não se percebe a elegância estranha de uma ave gigantesca, com asas que atingem até três metros de extensão, como o Tuiuiú.

Nem mesmo o equilíbrio natural de filhotes montados no dorso de suas mães capivaras quando elas repousam; ou o silêncio dos jacarés com bocas entreabertas refrescando-se num dia quente na margem do rio. Tem que estar lá sentir na pele e arrepiar-se ao vento.

É pântano a ser pisado e respirado com vigília. É uma pousada viva de pássaros, onde toada e gorjeio se confundem com sons de vento, de folhas, de galhos e, se um estrondo incomum irromper, milhões de asas estremecerão no céu.

O fato de ser protegido e de o turismo de massa não ter fincado garfo e faca nos seus 250 mil km2 de terras mato-grossenses torna o confim selvagem. Ali jaz um santuário de animais silvestres. Tudo parece padecer em perfeita harmonia.

Porém tem mês certo para visitar a região. Nunca no ciclo das cheias, entre outubro e março, pois é nessa época em que os moradores migram e borrachudos viram caseiros do local. Agosto é o mês certo.

Para chegar ao Pantanal do Norte, o ponto de partida é Cuiabá e o destino, Poconé, cidade hospitaleira com mais de 31 mil habitantes - entre os dois pontos do percurso dá um total de 94,8 km de rodovia asfaltada.

Localizado no centro da cidade de Poconé, o Skala cobra R$ 80, 00 a diária do casal, com direito a café da manhã. O hotel, que também é peixaria, tem uma comida caseira deliciosa e seus funcionários são simpáticos e atenciosos.

 Não há muita opção de hospedagem, a não ser o estilo “pensão”, caso esteja na cidade, e é de lá que se iniciam os 140 km da Rodovia Transpantaneira, uma estrada de terra plana com cascalhos, em ótimas condições para trafegar, e devagar.

Aproximadamente até o 70º km da Transpantaneira é possível encontrar alguns lugares para dormir. A maioria das pousadas oferece refeição completa – há um restaurante em todo o trajeto – e várias opções de passeios.

Os preços vão de R$ 350,00  a R$470,00 a diária do casal. Se não negociar antes de chegar, prepare-se para gastar. O preço cobrado vai além das estrelas que as pousadas têm. Com sorte, consegue-se fechar um pernoite-casal por R$ 250,00.

 Para o passeio de barco pelo Rio Pixaim, não esqueça de levar peixe fresco, o destino pode ser a toca das ariranhas. Brincalhonas e ágeis, essas parentes de lontra virão pegar a comida em sua mão, segurarão o peixe entre as patas e fincarão os dentes grandes e pontudos no suculento alimento.

Se tiver o prazer de ver uma delas em ação, ouvirá o som peculiar que emitem, mas não perceberá, estando fora da água, que elas podem atingir até dois metros de comprimento. Graciosas, as ariranhas vivem em bando e, raras, estão em extinção.

Além dos programas oferecidos pelas pousadas, como focagem noturna, cavalgadas, etc, uma boa opção é passear pela Transpantaneira, de carro, moto, ou bicicleta, um pouco a cada dia, para conhecer, fotografar e aguardar um momento especial.

 Revoadas de garças preenchendo o céu chapado e azul. Duplas de jaburus fazendo cocô em sincronia, como se fosse uma coreografia. Bando de piranhas subindo à superfície do rio - olhos e guelras na água argilosa – e, em segundos, afundando, desaparece.

Mas o grande momento acontece nos últimos 40 km da rodovia. A partir dali o mundo pertence mesmo à natureza e aos animais. A paisagem é irreal, estonteante. Colhereiros-rosa, Martins-pescador, Biguás, Galinhas d’águas...

Milhares de pássaros juntos, ao mesmo tempo, dividem o espaço na terra e no ar. O Pantanal possui mais de 650 espécies de aves catalogadas, todos os tipos, aquáticas, paludícolas e arborícolas, e 444 delas são raras.

 No final da Transpantaneira, Porto Jofre pode proporcionar um pernoite inusitado e agradável - dependendo do dia, pagará no informal Hotel da Diana R$ 130,00 por um quartinho de sapé e duas refeições. A comida e pão que a Diana faz são deliciosos!

Terá direito a um cômodo visitado por rãs, com cama de solteiro, lençóis com bálsamo de escamas, e escutar o ruído do gerador que funciona a noite inteira e que somente pára às seis da manhã, na hora do banho.

Sem ironias, uma experiência singular. Porque ao amanhecer, há uma vista singela e desbundante nesse vilarejo de pescadores. Grunhidos ecoam. Araçaris e Araras-azul compõem a paisagem e podem estar na grama ou dentro das árvores, onde dormem.

 Essas aves em extinção são tão comuns lá, que seus moradores nem fazem alarde. Com um pouco de sorte, é possível presenciar a visita de um Jaburu solitário e vê-lo caminhar entre os pescadores como se fosse um deles.

Chalanas partem, garotos pescam na beira do Rio Cuiabá. O sol faz evaporar o orvalho nas folhas e na relva, iluminando barcos de alumínio que esperam à hora da labuta. A vila doura-se, e do outro lado da margem do rio, mais lados do Brasil a se descobrir.