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Cometo gafe, e você não?
Por: Viviane
Fuentes
As palavras gafe e espontaneidade são
substantivos femininos, quase siamesas. GAFES, as minhas
pelo menos, surgem da ESPONTANEIDADE - amigos fizeram do meu
nome, um verbo, terminado em AR: equivocar, cometer gafe,
dar fiasco, trocar os pés pelas mãos pode significar algo
como eu.
Se gafe é deselegância, fiasco é insucesso, meu prognóstico:
além de um verbo, sou uma deselegante fracassada. Mas
protesto! Minha mãe me ensinou a agachar sem arrebitar o
bumbum. Não é justo, nem só de campeões vive-se um páreo.
Alguns diriam que a rata é decorrente de uma ação mal
formulada, pensada às pressas, sem conclusão. Não premeditar
uma ação é igual a ter catapora quando adulto: muito
estranho. Sou inocente, mas não sou vítima, sou
espontânea, cometo gafe, e você não?
Todos cometem, mas não comentam. Quem faz a fama, deita na
cama. Ou seria o inverso? Quem deita na cama, faz a fama?
Lençol e colcha. Não importa o tamanho do colchão.
Peças íntimas. Sussurros.
Como padronizar o tamanho do sutiã? As bundas são
diferentes! Quem ganhou o concurso O Melhor dos Iguais?
O tamanho médio, grande ou pequeno?
No caso de uma amiga, nem um nem outro nem o outro.
Cerca de mais de um ano, ela quase foi parar num cirurgião,
apenas pelo simples ato de ir a uma loja de roupas. Queria
comprar um vestido de festa. Todos os que estavam na arara
cabiam perfeitamente no corpo dela. Porém faltava algo.
Segundo o vendedor, faltava algo na minha amiga e não nos
vestidos da loja. Ele disse a ela: A senhora está com o
número errado. Ela respondeu com a roupa de festa à mão:
Como assim? Há mais de trinta anos visto 40. E 40 é 40.
O vendedor respondeu em tom de grande sapiência: Sim, eu
entendo, senhora. Mas os seus seios é que faltam ao
vestido. A maioria das mulheres sucumbiu ao silicone – e
continuou staccato – entre os dois seios, a fenda
fica maior. Hoje o tamanho é único.
(Peguei! Agora entendi o sentido de ser único, exclusivo:
Único que dizer Igual e não Excepcional)
Minha amiga telefonou para a Defesa do Consumidor e disse,
aos soluços, ao atendente: A Mulher Maravilha tinha muito
peito porque a atriz do seriado de TV era americana. Os
travestis são homens, não têm seios, por isso enchem de
silicone o peito, a fim de satisfazer uma fantasia caricata
da mulher. Alô! Alô? ...Tum, tum, tum. Desligaram na
cara dela. Número errado.
Os vencedores são feitos de formas idênticas. Onde posso
comprar uma? Ao vencedor, a forma.
O azarão avança na reta final!
Causar estranheza é
démodé. Eu me rendo. Não tenho o dom.
Descobri recentemente que ter rugas de expressão é
inconveniente, não se usa mais, e que o meu bigode chinês
tem que ser preenchido com botox, e que a gentileza caiu em
desuso. Alguém me ajude!!!!
Houve uma vez, num dia banal como outro qualquer, me
prontifiquei a ajudar um deficiente visual, numa calçada em
reforma:
— Senhor, vou ajudá-lo.
— Não sou aleijado! E tira a mão do meu
cotovelo!! – fui arremessada da calçada para a sarjeta.
Não soube onde enfiar a cara. Enfiei a boca numa bomba de
chocolate. Pensei, enquanto lágrimas de ódio escorriam dos
meus olhos: “Está vendo? Tomou! Quer dar um de Madre Teresa
de Calcutá! Tomou!” E aprendi a lição. “Eu, hein?!!” O
tempo passou, a mágoa se foi. E eu sou como sou.
Numa tarde quente de novembro, vi um senhor na rua,
deficiente visual, a caminhar numa calçada impecável, lisa,
sem desníveis ou buracos. Eu não estava com pressa, era meu
dia de folga.
—
Senhor, quer companhia? Vou seguir adiante por mais alguns
quarteirões.
—
Ah, sim, muito obrigado.
Conduzi o senhor pelo cotovelo. Era um simpático velhinho,
nunca sei a idade deles, normalmente têm características
físicas diferentes daqueles que enxergam. Viemos proseando
como se proseia em cidade do interior.
Ao chegar à minha “bifurcação”, me despedi cordialmente.
Segui ereta, sem ter os lábios na sarjeta. Superei a mim, ao
meu trauma e às minhas gafes. Tinha a sensação de terem me
aceitado como eu era.
No dia seguinte, de volta ao escritório, contei
ao meu chefe como foi meu dia de folga - ótimo por sinal. O
eco das palavras dele reverberou na minha orelha:
—
Como assim? É brincadeira, não?!
—
Claro que não! – respondi - Por que, o que é que tem de mal?
—
Não tem nada de mal. Tem de errado! - e continuou, parecia
bravo - Não é você quem pega no cotovelo, é o deficiente
visual que pega no seu cotovelo!
Parei, pensei, havia lógica no que ele dizia. Mas eu não
sabia que era assim que tinha que fazer! Ninguém havia me
explicado! Na minha família só tinham deficientes auditivos
e míopes.
— O que mais aconteceu? – perguntou com um
sorriso entreaberto, deduzindo que acharia algo mais. Talvez
a grande rata.
Contei que nada de anormal, um papo gostoso. O senhor havia
me dito que era cego de nascença, que havia decidido passear
aquela tarde, pois fazia muito calor na casa dele de dois
cômodos e teto baixo. Aproveitei o ensejo e contei-lhe sobre
a viagem que eu havia feito no último final de semana.
—
O senhor conhece a Serra de Cunha?
—
Não.
—
Ah, o senhor tem que ver! É uma serra linda. Muito verde,
cascata d’ águas... - descrevi-lhe a carioca Parati, as
flores selvagens, o carro que chacoalhava na serra...
Meu chefe me interrompeu (... Parecia que ia gargalhar...?
Olhei bem, não, não ia).
—
O senhor era cego de nascença! – gritou comigo como se
estivesse me demitindo.
Meus olhos congelaram num ponto fixo, roí as unhas, anelei
os cabelos com a ponta dos dedos, cocei o cotovelo, e
respondi:
—
E daí? ...Ele era deficiente visual e não mental, poderia
imaginar o que descrevi, não, mesmo que nunca tenha visto,
não?
Pausa. Meu chefe verteu a água da jarra, em cima de sua
mesa, num copo. O telefone tocou, não atendeu, olhou através
da janela, e deu um gole.
Olhei através da janela também. Pensamos juntos e mudos. A
mesma equação poderia dar resultados diferentes.
Talvez fosse possível imaginar um mundo não igual ao que
vemos, e sim “igual” ao que descrevemos. Ou não. Quem sabe
não exista melhor nem pior, mas diferente. O melhor dos
iguais, que venceria o concurso?
Uma placa caiu em minha cabeça. Nela, o já conhecido anexim:
Pior cego é aquele que não quer enxergar. Ouvi o som
do caça-níquel e vi as seguintes palavras escorregarem pelo
painel: naturalidade, originalidade, simplicidade,
desembaraço: substantivo feminino. E depois: palavra
impensada, indiscreta, desastrada; indiscrição involuntária:
substantivo feminino.
Espontaneidade e gafe, segundo o dicionário.
...Siamesas.
(FIM)
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