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Pseu de Outras Vezes

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12/01/2009 - Borracha na entrada de 2009!

04/12/2008 - Bastidores de mãe!

19/05/2008 - Na minha boca não!

18/03/2008 - O que nossas avós não contavam

17/10/2007 - Dublê da Mulher Maravilha Por: Vivi

23/08/2007 - O catador de papelão e a marvada pinga: pros lados é que se vai!

18/06/2007 - Cães dóceis, vizinhos raivosos

02/05/2007 - Pra quem não tem sobrenome de lastro, apelido!

09/04/2007 - Fila, cultura brasileira: em exibição...

05/03/2007 - Rugas, por  que não te quero?

07/02/2007 - Quem é a irmã bastarda?

18/01/2007 - Super gatos, galãs e gatos-gato!

12/12/2006                            Yerma do Agreste

08/10/2006                            Bulímica é a madrasta!

04/09/2006                            Sogras são colonizadoras

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11/07/2005              Segunda-feira no parque

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11/5/2005            Champanhe e literatura lado fraco da corda.

 

07/02/2007 - Quem é a irmã bastarda? Por: Viviane Fuentes

Minha mãe, sua irmã mais nova, minha tia mais velha, a irmã do meio e os pais dela, míopes. As filhas da minha mãe, a vizinha, o irmão dela, míopes. Se existisse um grau mais agudo de miopia, certamente minha seria o de meus parentes, tríopes.

 Toda a minha família materna enxerga mal. Esse é o veredicto. Nasceram com problema de vista e, com o tempo, viriam a usar óculos. E, com um pouco mais de tempo, substituiriam os óculos pelas lentes até que, por fim, com a chegada da modernidade, nada usar, graças a operação a laser

Rostos nus, retinas descobertas, sem gel, sem cápsulas, soro fisiológico, saliva, apenas a íris, sobrancelha sem marca e sombra de dúvidas, o olhar de volta, apertado e natural, assim como veio a Terra.

Independente da Lua, quando crianças, minhas irmãs queriam descobrir qual das três era de Marte, ou seja, quem de nós seria a irmã adotada. Por pura crueldade e pelo poder da humilhação encontraríamos a alienígena entre nós.

Minha irmã mais nova era a única de olhos verdes. Nem o pai nem a mãe tinham olhos claros. Mas ao olhar para a avó paterna, a teoria caia abaixo. A mais velha, era corcunda, talvez fosse filha dos avós e não dos pais. Quanto a mim...

Não existiam teorias bem fundamentadas, todos os amigos e parentes afirmavam que eu era mezzo-a-mezzo, pai e mãe, fifty-fifty, por isso não conseguiam fazer nenhuma hap de mim, pelo menos nesta questão, mas apelavam.

Diziam que eu era macho, quanto apelo! Só porque eu gostava de usar calça bem abaixo da cintura, igual os mecânicos da cidade , que mostrava o rego, e porque achava um charme o braço de minha prima ser peludo. Quanto apelo!!

De fato, as irmãs nunca concluíram nada, porém, com todas as conjeturas levantadas, na época, poderiam montar uma loja de suposições e vendê-las por uma vida inteira, enriquecendo o capítulo da novela “Quem é a irmã bastarda?”.

Mas o mistério pairou no decorrer do tempo. Por que eu era a única entre nós que crescia e o problema de vista não vinha seguido de garrafões no rosto? Por que não me caracterizava feito a dinastia da família quatro-olhos?

A pulga era lançada atrás da orelha.

Jamais tive problema de vista ou astigmatismo. Estrabismo só de alma. Enxergava de perto, de longe e além, muito além, tal qual minha mãe, que fingia ser mais cega do que era, muito mais.

Seria eu a filha bastarda, então?

E o pior, adquiri assim uma anomalia no decorrer do tempo. Ninguém na família de minha mãe tinha problema de surdez, até aquele momento. Nem a do meu pai - pelo menos a parte que se conhecia.

O fato é que minhas irmãs, solucionariam seus problemas genéticos, uma com balé clássico e a outra com lentes coloridas e eu não. Talvez não fosse a terapia que resolveria meu dilema, e sim um bisturi.

Aos 29 anos, já colecionava duas perfurações adquiridas, uma em cada tímpano: a do direito, por acreditar ser um lambari quando imergia na represa, a água entrava no ouvido e o infeccionava; a do esquerdo, causado por mergulho de cilindro na caça aos tubarões.

No ano 2000, foi comprovado por especialistas de otorrinolaringologia que as crianças que tiveram traumatismos recorrentes no tímpano durante a infância poderiam ter seu sistema neuro-central afetado.

O que isso significa? Em rápidas linhas, uma tendência à pessoa passar muito tempo em seu próprio mundo, desconectar-se, eventualmente, do ambiente onde está e a das pessoas com quem convive.

Depois de fazer a timpanoplastia aos 10 anos de idade, fiz a segunda aos 34 - ambos os tímpanos ficaram livres para eu mergulhar de cabeça na piscina, mar ou no chuveiro... Mas a audição não voltou. O que surdou, surdou mesmo.

Solução do século XX: nada de aparelhos auditivos Telex e sim micro caixas de som Bang & Olufsen - essa é a promessa de tecnologia dos novos aparelhos, não a verdade e muito menos a marca citada acima (ela é meramente ilustrativa).

Máfia branca. Fonoaudiólogas tornam-se vendedores. Tentam vender o peixe. Nada contra o profissional ganhar sua comissão, mas tem que estar apto a profissão pela qual se formou e exerce, e não ser apenas um vendedor.

Prometem um aparelho que é a cara metade do seu canal auditivo e que irá se ajustar as suas necessidades. Só que eles não sabem ajustar "as suas necessidades". Não incluo toda a classe, tomo como referência aqueles que me atenderam.

A primeira vez que se coloca o aparelho, que é moldado dentro de sua orelha, surge uma microfonia ensurdecedora. Mas ele é "eqüalizado" e colocado no canal auditivo. a partir de então, o tímpano ouve sons nunca ouvidos.

Ouve o vizinho fazer pum. O vira-lata da esquina a cavar o asfalto para enterrar o osso. Os passos das formigas e ao mesmo tempo os meus.  “Uma solução para cada caso?”. Embuste! Igual aos antigos aparelhos.

A proposta é que o alcance do som se adapte a cada ambiente. Em multidões, ele potencializa. Ao entrar num local silencioso, ele abaixa. Por apenas 8.333 pães, o aparelho é seu!

Desisti de ouvir melhor, já que uma operação também não adiantaria, pois a parte óssea do meu ouvido está comprometida. A cada dia que passa, me articulo cada vez pior, mas acreditando ouvir e me expressar muito bem!

Hoje, as irmãs, adultas, não são tão cruéis nem tão preconceituosas, concluíram (mos) que não há bastardas entre nós e, mesmo, que houvesse, não seria problema para nos "amarmos". Não há uma Carrie, a estranha entre nós.

Apenas puxei a família de meu pai: a mãe dele, a irmã dela, a mais nova e as duas mais velhas, que estão surdinhas da Silva! Como eu, só que sou jovem demais em comparação, e não pelos mesmos motivos.

Mesmo que, segundo a astrologia, meu planeta regente seja Marte, não sou alienígena. É brasa, mora! - como diria Roberto Carlos.

***

P.S. O sketche de surdez abaixo se passou comigo:

Trabalho numa loja de presentes. Um cliente entra e pergunta:

— Tem carne?

— Carne?! - sorrio irônica

— Não, carne! – aumenta a voz, mantendo a educação.

— Não, não temos carne! – digo irônica com o subtexto “aqui não é açougue!”.

Um outro vendedor se aproxima e me diz, discretamente:

Cards... Aquelas cartas que a garotada coleciona, de carro, futebol...

—... Por que não me disse antes? – sorrio sem graça para o cliente – CAR-DS? Na loja ao lado, senhor! (FIM)