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04/12/2008 - Bastidores de mãe!

04/12/2008 -  Bastidores de Mãe

19/05/2008 - Na minha boca não!

18/03/2008 - O que nossas avós não contavam

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18/03/2008 - O que nossas avós não contavam  Por: Viviane Fuentes

Quando criança, toda sexta-feira à noite, eu torcia pelo tricô da minha avó causar sonolência profunda nela. Diante da televisão, se dormisse antes da meia-noite, os ratos poderiam fazer a festa e eu ver filmes de sacanagem.

Sempre assistíamos a alguma “invasão” na TV e, no meio da trama, eu fingia adormecer no sofá - por medo e para que o meu plano desse certo. Ao recolher seu novelo de lã, fungava um longo ronco e minha avó deixava-me dormir ali.

Sabia que eu já era grandinha e que acharia o caminho de volta para o quarto - exceto uma vez, fui encontrada em estado dormente nas escadas da entrada do sobrado em que morávamos. Como cheguei lá?

Não sei exatamente, acho que errei o caminho, mas eu pertencia a uma família excêntrica de sonâmbulos. Certa vez, minha mãe acordou sendo sufocada com um pepino por meu pai. Minhas irmãs e eu sempre despertávamos em lugares que não a cama.

Já nos resgataram debaixo da mesa da sala de jantar, debaixo do colchão e na privada. Ao dormir no mesmo quarto, fazíamos coral de conversação - uma resmungava de um lado e a outra respondia do outro – até as flatulências noturnas deveriam ser sincronizadas.

Beliche? Era um perigo! Certa vez cheguei a cair da parte de cima de um, dormindo é claro, mas pela vão entre a cama e a parede e não pela parte externa, pelas escadinhas, intermediárias entre térreo e primeiro andar, o que seria mais comum.

Pobre coitada da minha avó! O sono das netas que ela educara acabava por dar-lhe insônia durante o dia. Leva uma ao hospital para engessar o braço, tira a chapa da cabeça de outra para ver se os parafusos não afrouxaram...

Mas ela sabia aproveitar sua hora do ócio vendo westerns e filmes B. Todo bicho que invadia ou atacava, agitava seu controle remoto (se na época tivéssemos). “A Invasão das Rãs”, “A Invasão das Abelhas Gigantes”, “Os Dobermans Atacam” fizeram parte do meu universo infantil, graças a minha avó.

- eu criaria, quando adulta, “A Invasão das Perucas Bárbaras”. Cabelos ensebados de manteiga - tal como os povos bárbaros usavam – madeixas engomadas atacando as coroas de louro de Roma e de outras de povos da Europa, até não sobrar mais osso sobre carne, apenas pêlos e sangue.

Um clássico que minha avó assistia, uma vez ao ano durante décadas era o filme “O Homem Cobra” - minha irmã mais nova e eu sempre insistíamos para que nos deixasse assistir e, no final cedia, já sabendo que teríamos pesadelos e calafrios.

Com pés em cima do sofá, para nenhum cão do avesso, rã com alteração genética, aranha monstro, puxar minha perna. Eu usava de valentia para ir até a metade do filme, logo quando os ataques começavam - por isso fechava os olhos, por isso fingia dormir.

Mas títulos e filmes como "A Ilha das Cangaceiras Virgens", "Histórias que Nossas Babás Não Contavam", "Como Era Boa a nossa Empregada", "A Viúva Virgem", “O Bem Dotado, o Homem de Itu", "Os Bons Tempos Voltaram - Vamos Gozar Outra Vez", esses sim, eu adorava! Sentia-me transgressora ao conseguir assisti-los.

No estágio em que as agulhas e a lã começavam a emaranhar a visão da minha avó que pescava, ela se levantava, ia para a cama e sem assistir ao final da história – que era óbvia.

Para mim, dali em diante, era só alegria e esbórnia! Meu plano vinha a calhar e logo logo o colocaria em ação.

Começaria um programa impróprio para adolescentes com espinhas purulentas, exibido na TVS (SBT): Sala Especial, sextas às 23 horas e um monte de gente peladona e histórias que eu não entendia aos sete anos de idade.

Ao ouvir o primeiro e único ronco de minha avó em seu quarto – saía do sofá na ponta dos pés, ligava o televisor, abaixava o som - afinal eu não entendia a piada, pra que o som? E quem se interessa pelos diálogos dos filmes pornôs?

Era divertido ver um homem passando de cueca vermelha, beijos de línguas esponjosas, banhos maliciosos, seios já crescidos, bundas musculosas e peludas – aliás, na época, não era permitido púbis nem membros, nem depilando!

Quantas crianças e adolescentes não fizeram sua educação sexual com as pornochanchadas? Dos meninos, tenho certeza que muitos. Mas e as meninas? Minhas irmãs não o faziam, creio.

O certo é que minha avó nunca me flagrou em plena sessão, lá no escurinho da sala, mas se me pegasse com a boca na botija, diria que estava assistindo ao filme porque teria prova de biologia, e pornochanchada seria o tema. Mero cunho científico.

Certamente nossas babás – se as tivéssemos - não nos contariam fábulas eróticas, mas tenho certeza de que assistiriam conosco, às escondidas, aos filmes e entenderiam muito bem as tais ereções de Nuno Leal Maia em “O Bem Dotado, o Homem de Itu".

Afinal, bem usada, uma boa dose de sacanagem é alimento da vida e não faz mal a ninguém. Minha avó certamente sabia isso. Mas nunca revelou as netas. (FIM)