11/07/2005 - Segunda-feira no parque
Por: Viviane
Fuentes
Depois de completar 70 dias sem fumar, chegou a hora de
queimar todos os doces e sorvetes que andei consumindo na
tentativa de suprir minha maldita ansiedade.
Fumei durante
20 anos e me admira, atualmente, não sentir a menor vontade de acender um
cigarro, mesmo ao tomar um drinque.
A clássica combinação
bebida alcoólica com fumaça versos baforada pós-sexo não é
mais clichê para mim!
Todavia ao pensar em doce, minhas mãos
tremem e eu começo a salivar feito cão raivoso. Tento me
conter, penso em Divine. Quando dou por mim, já estou na
metade de um petit gateau.
Nessa fase de abstinência à nicotina e derivados é
fundamental fazer exercícios. Todos os dias, dou minhas
caminhadas matinais pelo bairro, acompanhada do cão, e uma
vez por mês faço trilha de bicicleta no mato.
Mas gente!
Tudo isso é muito pouco!! Faz bem para o coração, faz bem
para a cabeça, mas meu metabolismo não queima porra nenhuma
de caloria!!! Pelo menos, não o suficiente.
(Será a tigela do Sucrilhos com leite
das cinco da tarde muito grande?)
Decidi, então, puxar o ritmo da caminhada e começar a
correr.
Ontem, fui para o Parque Villa-Lobos. 7h45 lá estava
eu. Tinha em mente me exercitar por duas horas. O dia estava
lindo, bem fresco e o sol ainda despontando.
Casais coroas,
saudáveis e aristocráticos, caminhavam em passos firmes;
adolescentes corriam num esforço mínimo de ação - também não
precisam de muito; solteiros enxutos, elegantes como
garanhões de pura raça, faziam cooper; um policial se
alongava, cena bizarra, dependurado numa árvore, igual ao
macaco; no meio da sombra, turmas de ioga relaxavam; o beija
flor sugava aquilo que lhe pertencia... Esse era o panorama
do parque. Um dia bonito, morno e calmo.
Comecei a caminhar, inspirando e expirando,
oxigenando o cérebro o suficiente para chegar enérgica ao
12º quilometro e, também, para não entrar em crise de
pânico. Quase para terminar a primeira volta de três
quilômetros, um homem de bicicleta me ultrapassa, gira o
pescoço, olha para trás e me encara.
Atravesso uma pequena
moita, que é o trajeto normal do parque, ele diminui a
velocidade e continua me olhando. Pensei se tratar de um
tarado. Era impossível um homem de boa higiene mental
abordar uma mulher antes das oito da manhã, numa
segunda-feira, num canto deserto do parque... Era
constrangedor demais!
Apressei meus passos e, sorte, logo,
avistei logo um segurança na guarita. Ultrapassei confiante
o ciclista “domingueiro”, séria e ereta, olhar no horizonte,
e o julguei parte do passado, mas, quando percebo, ele está,
no presente, a pedalar, ao meu lado, ao ritmo da
minha caminhada, e diz:
— Bom dia!
Olho sem ter certeza de que fala comigo, sim é
comigo que ele fala. Não respondo.
— Está sozinha?
Não respondo.
— Está acompanhada?
Não respondo.
— É casada...
Não respondo.
— ... Solteira?
Não respondo.
— Não quer papo?
Espirro de surpresa e não respondo.
— ...Está bom! -
irritado, pedala mais rápido e some de vista.
O homem de
roupa e capacete adequados, perguntou e respondeu às
próprias perguntas por ter um comportamento completamente
inadequado.
Ponto de
Vista 1 – Corre o risco de falar sozinho,
quem pergunta o que não deve
Ponto de Vista 2 – Corre o risco de falar sozinho, quem fala com
a secretária eletrônica
O Ponto
de Vista 2 me fez lembrar a cena antológica de Swingers - filme
"independente" americano que, com apenas U$10 mil, foi
sucesso de bilheteria - a cena que me refiro é aquela que o cara liga para a garota que
está afins para convidá-la a sair; a secretária
eletrônica atende, ele deixa o recado e desliga o telefone; não
satisfeito, faz mais uma ligação, a qual desencadeará uma
seqüência delas.
Os primeiros recados são típicos de um flerte, até aí tudo
bem, porém no final ele descamba; irritado, interage com a
secretária eletrônica e termina o romance que nem
começou.
Capítulo 2: A vida imita a arte.
Em 1998, para divulgar meu livro de poesia
visual “A Tromba do Elefante”, participei do programa da
Silvia Poppovic, ainda na Bandeirantes. O tema era algo do
tipo “tomei um pé na bunda, fui ao inferno, mas voltei”.
Baseando-se em minha real história, Poppovic e a psicóloga de plantão, com imaginação
mais fértil que a minha, traçaram um perfil alucinante do
meu ex! (E eu consegui uma façanha! Falar mais do
que a Silvia!).
O fato é que (adoro escrever e falar “o fato é
que”, é deliciosamente idiota e arrogante!) eu não sabia, mas acabei
descobrindo que o programa da Poppovic era uma ótima
oportunidade para conhecer pessoas e arranjar namorados.
Certo dia, um telespectador que assistira ao
programa ligou para minha casa (não só ele, outros também
ligaram, porém esse foi inesquecível), e ligou dias
seguidos!
Mero acaso, em nenhumas das ocasiões eu estava em
casa, portanto ele teve que "falar" com a minha secretária
eletrônica. Deixou quatro recados distintos em quatro
distintos dias da semana. (São hipotéticos o nome do rapaz e
a cidade de onde ele é)
Primeiro dia:
— Oi, Vi, meu nome é Tiririco. Vi você no programa
da Silvia Poppovic, liguei no programa, mas não me deram seu
telefone, liguei para o 102 e, por sorte, consegui seu
número. Gostei muito de você. Eu sou de Santos, meu telefone
é XXX-XXXX, liga para mim.
Segundo dia:
— Oi, Vivi, aqui é o Tiririco de Santos, eu te
achei muito bonita, gostaria de te conhecer, mas não estou
conseguindo te encontrar... Bom, te ligo depois... Ou liga
para mim, eu já deixei meu telefone, mas vou repetir o
número XXX-XXXX.
Terceiro dia:
— Viviana
- nervoso, erra meu nome - está difícil te achar em casa, você não
atende, não me retorna as ligações... Pelo visto você é tão
complicada quanto aparentou no programa, deve ser por isso
que o seu namorado te deixou.
Quarto dia:
— Olha, escuta aqui, Viviane, é o Tiririco que está
falando, você é muito fresca mesmo. Não precisa mais me
ligar. Você tem aquilo que merece. Esquece que eu te liguei
um dia.
Desligou o telefone na cara da secretária
eletrônica e nunca mais voltou a ligar.
O que eu podia fazer, eu fiz. Peguei o telefone,
liguei para a Telefônica e pedi que tirassem meu número do
catálogo.
Final do capítulo 2: 102: O assinante não
autoriza a divulgação do telefone.
Voltando ao parque Villa-Lobos. Consegui caminhar
apenas nove quilômetros e corri exatos sete minuto - afinal por que
o tênis de corrida?
Depois
da abordagem inapropriada, passei pelo homem da bicicleta
umas três vezes. Ao nos cruzarmos, ele endureceu o corpo e o
pescoço e fingiu não, e nunca, ter me visto!
Da próxima vez, venho com meu sapato de caminhada e e
um sapato de salto agulha para calçar na mão - defesa pessoal... Melhor não, esse
meu sapato foi
o frenesi de um homem que leu uma matéria numa
revista, anos atrás. Conto ou não conto? Dá tempo?
A pauta:
um
divertido diretor de teatro divulgava sua pré-seleção de
“estranhos” atores e, na matéria, havia uma foto minha, do PERSONAGEM que eu representava. Certo
dia, recebo a ligação de um desconhecido que dizia ter visto
minha foto naquela revista, e prosseguiu:
— O sapato que você está calçando na foto é lindo!
Adoro sapatos, você dever ter um pé lindo!! – disse o desconhecido.
Pensei se tratar de um tarado, mas já que eu tinha
atendido o telefone, seria educado respondê-lo (o sapato ao
qual ele se referia era um mule zebrado).
— Você gosta de calçá-los ou vê-los calçados? –
perguntei depois de meia-pausa.
— Vê-los calçados - titubeou.
Pensei: “Mas onde, diabos, ele conseguiu meu
telefone? Não estou mais no 102!”. Perguntei, para saber se
tratava de um pervertido ou não:
— Você gostar de calçar em você ou nos outros?
Atenção! Muita Atenção ao Pseu do Blog!
Por se tratar de uma história longa, vou deixar o desenrolar
dessa situação para a próxima atualização do site. Vou sair,
tenho uma entrevista de trabalho!
Devo ir caminhando. Vou
de táxi?
Será que a apresentadora Angélica
sabe quem é Vanessa Paradis? Será que Vanessa sabe quem é
realmente Johnny Depp? E Depp, será que ele já sonhou comigo?
(fim)
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